O que é o bullying?
O bullying consiste num comportamento agressivo e antissocial entre pares, intencional e repetido, caracterizado por uma assimetria de poder entre bullies e vítimas. É um fenómeno universal, transversal a diferentes países, culturas, géneros ou modalidades desportivas.
Apesar de abrangente e intemporal, o bullying não pode ser tolerado, uma vez que consiste uma incontestável violação dos direitos individuais.
Consequências
Stress | Menor concentração | Reduzida motivação e energia | Menor performance desportiva | Baixa auto-estima | Comportamentos agressivos de retaliação | Ataques de pânico | Ansiedade | Isolamento | Exclusão social | Desistência precoce da prática desportiva | Mudança de clube e/ou de modalidade
Tipos de bullying
Os comportamentos de bullying são geralmente classificados em:
- Bullying verbal – gozar, fazer piadas, insultar, ameaçar, intimidar, humilhar, ridicularizar.
- Bullying social – excluir, ignorar, espalhar boatos, roubar ou danificar pertences.
- Bullying físico – pontapés, murros, contacto físico não desejado.
- Cyberbulling – difundir vídeos, fotografias ou fazer comentários indesejados através de mensagens, emails ou redes sociais.
É frequente episódios de bullying que combinam as 4 categorias anteriores.
O bullying no desporto
Resultados da investigação realizada em Portugal sugerem que 1 em cada 10 jovens já foi vítima de bullying no desporto! Valores que podem ainda estar camuflados pela mentalidade de dureza presente na prática desportiva, que associa a imagem do atleta ao estereótipo sexual masculino e ao corpo ideal de forma exacerbada.
A cultural de treino extremamente rígida e severa de algumas modalidades, faz com que comportamentos de bullying – inclusive do treinador – sejam vistos como parte integrante do desporto, provas que o atleta tem de aguentar e superar para se tornar mais resiliente e atingir o sucesso desportivo.
O bullying no desporto é predominante verbal, incidindo na ridicularização da performance desportiva, ou nas características físicas das vítimas – tais como o excesso de peso, descoordenação e torpeza. Chamar gay ou fazer piadas de cariz sexual é também muito comum entre rapazes.
O bullying físico tende a estar presente nos grupos de atletas mais novos, sendo mais fácil de identificar.
Os episódios de bullying acontecem com maior incidência dentro do clube, mais especificamente no balneário – por ser um local menos vigiado pelos adultos. Os locais de treino são também áreas de incidência, com agressões dissimuladas, por forma a fugir ao controlo do treinador. Motivos que muitas vezes justificam o desconhecimento dos responsáveis no que respeita a este tipo de comportamentos.
Mitos sobre bullying
“O bullying é normal e ajuda as crianças a prepararem para as dificuldades da vida.
Os miúdos devem aprender a resolver isso entre eles.”
“No meu tempo não havia bullying, isso é uma invenção recente.”
Ser agredido não é normal e as vítimas precisam de ajuda. O bullying dificulta o desenvolvimento saudável do sujeito agredido, com consequências que podem durar para toda a vida.
O bullying sempre existiu, embora a investigação sistemática sobre o tema seja recente. Intervir não é fácil, mas a educação para o tema, e acção coletiva de combate, garantem resultados a longo prazo.
Quem é quem?
BULLY: caracteriza-se por uma atitude de confronto. Não compreende as consequências das suas acções, e tende a atribuir aos colegas a culpa por insucessos pessoais ou coletivos.
Fisicamente ativo | Boa performance desportiva | Popular | Exibicionista
VÍTIMA: destaca-se do grupo na forma de pensar, agir, ou via características particulares (etnia, género, descoordenação ou excesso de peso).
Comportamento mais passivo | Menor performance desportiva | Isolamento
OBSERVADOR: O bullying tende a ocorrer em grupo, e os ataques dos bullies às vítimas têm geralmente um objectivo instrumental – por exemplo, ganhar popularidade entre os colegas.
Os observadores são parte integrante deste fenómeno, e a investigação mostra que a sua intervenção pode potenciar ou diminuir os comportamentos de bullying por parte dos bullies.
Comportamentos de abuso do treinador
O abuso dos treinadores para com os atletas encontra-se muito presente no desporto, e tende a ser banalizado pelos pais e pelos atletas. Estes comportamentos têm efeitos devastadores a longo prazo, com consequências no desenvolvimento social e emocional das vítimas.
Fatores de Risco
Aculturação da mentalidade de “dureza”. Falsos raciocínios frequentemente utilizados para justificar os comportamentos de bullying proveniente de treinadores;
O treinador como veículo para o sucesso. Os atletas adotam uma atitude de submissão, e os comportamentos desajustados dos treinadores são ignorados;
A idade do treinador, o conhecimento da modalidade e sucessos passados. Um treinador mais velho e veterano na modalidade pode ser percecionado como uma autoridade inquestionável, não lhe sendo contestados os métodos;
O género. Risco particular em treinadores do sexo masculino que treinam raparigas, podendo estar presentes o assédio ou abuso sexual;
Autoridade legitimada. Ao treinador é dado poder para tomar decisões, compensar e castigar, o que pode refletir-se em formas de abuso sobre os atletas;
Proximidade acentuada entre treinador-atleta e maior distância em relação aos pais. Esta proximidade pode resultar num grande controlo por parte do treinador, que conjugado com o distanciamento face aos pais, deixa o atleta isolado.
Exemplos de comportamentos de abuso do treinador sobre os atletas são – Gritar, Humilhar e insultar, ameaçar ou agredir fisicamente, assediar ou abusar sexual, e excluir, ignorar ou negar assistência quando necessária.
Existe uma diferença entre um feedback orientador e construtivo face ao êxito do desempenho e uma crítica insultuosa. O primeiro tem em consideração a subjetividade do atleta, baseia-se numa relação de respeito pelo mesmo e tem um objetivo formativo, enquanto a crítica insultuosa consiste num comportamento agressivo, que visa atacar o atleta e não tem um objetivo formativo.
Existem vários motivos para os atletas não denunciarem os comportamentos de abuso dos treinadores, quer por considerarem esse ataques como normais, por medo do treinador, medo de represálias, receio de serem desacreditados, etc.